Relatório final da CPI apresenta plano para revitalizar o Rio Melchior
Após oito meses de trabalho, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Rio Melchior aprovou, nesta segunda-feira (15), o relatório final apresentado pelo deputado Iolando (MDB). O texto reúne uma série de medidas para enfrentar o cenário crítico de degradação ambiental que ameaça a qualidade da água e a saúde pública no Distrito Federal.
\n\nSegundo a presidente da comissão, deputada Paula Belmonte (PSDB), os resultados da CPI foram positivos. A distrital pontuou que, apesar de as emendas propostas por ela ao relatório final terem sido aprovadas apenas parcialmente, o texto final representa um marco ambiental para o DF e que o documento será um norteador de políticas públicas para a revitalização do corpo hídrico. “Esse relatório não é político. É sério, comprometido, denso e técnico. Trabalhamos arduamente para apresentar a melhor política pública, baseada nas práticas mais sustentáveis do Brasil e do mundo”, afirmou Paula.
O relator, deputado Iolando, reforçou que a construção do documento seguiu critérios técnicos para propor encaminhamentos imparciais. Ele destacou que a revitalização do Melchior depende de um esforço conjunto entre Estado, empresas e sociedade civil, envolvendo fiscalização, adequação das atividades às margens do rio e conscientização sobre descarte correto de resíduos.
\n“Nosso trabalho não se resume a apontar irregularidades, mas a construir soluções e apresentar recomendações. O trabalho não termina na apresentação dos problemas”, disse.
\nO relatório final — que recebeu emenda aditiva apresentada por parlamentares da CPI — foi aprovado por unanimidade pelos cinco membros: Iolando, Martins Machado (Republicanos), Joaquim Roriz Neto (PL), além dos autores da emenda, Gabriel Magno (PT) e Paula Belmonte.
\nNa reunião, os parlamentares destacaram resultados concretos obtidos durante os trabalhos da comissão, como o início da instalação da rede de água tratada na Comunidade da Cerâmica pela Caesb e a decisão do Ibama de negar a licença ambiental para a construção de uma usina termelétrica na região. “Essas foram grandes vitórias conquistadas ao longo da CPI”, afirmou Belmonte.
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A CPI recomendou ao governo do Distrito Federal alterar o Anexo I da Resolução nº 02/2014 do Conselho de Recursos Hídricos (CRH/DF) para promover o reenquadramento imediato do Rio Melchior da Classe 4 para a Classe 3, conforme a Resolução CONAMA nº 357/2005.
\nAtualmente, o rio está na pior categoria, que permite apenas navegação e harmonia paisagística, sem uso para abastecimento, irrigação ou recreação. A mudança busca impor padrões mais rigorosos de qualidade da água e criar um instrumento de planejamento para ações concretas de recuperação ambiental.
\nO documento destaca que o Melchior é um dos cursos d’água mais importantes do DF, recebendo efluentes sanitários de cerca de 1,3 milhão de pessoas de Ceilândia e Samambaia. Segundo o relator, a classificação atual, “extremamente permissiva”, favorece o lançamento contínuo de poluentes, tornando o rio um “sacrifício ambiental” e inviabilizando usos múltiplos.
\nCom a nova classificação, será possível exigir tratamento mais avançado dos efluentes, reduzir a poluição e permitir usos como irrigação e abastecimento após tratamento convencional, além de melhorar as condições para a fauna aquática.
\nAlém da mudança imediata para Classe 3, o documento estabelece uma meta ambiciosa: enquadrar o Rio Melchior na Classe 2 até 2036, o que, conforme o documento, representaria um salto significativo na qualidade da água e na preservação ambiental.
\nPara isso, serão necessárias ações integradas, como modernização das estações de tratamento, fiscalização rigorosa, combate às ocupações irregulares e definição de parâmetros mais restritivos para outorgas de lançamento de efluentes. A CPI reforça que essa medida é estratégica para garantir o uso sustentável do rio e recuperar gradualmente um ecossistema hoje marcado pela degradação.
\nA classificação 2 permite que o recurso hídrico seja utilizado para abastecimento humano, irrigação de hortaliças e plantas frutíferas, recreação de contato primário, como natação, além de atividades de aquicultura e pesca.
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Além do reenquadramento, outro ponto central é a modernização das Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) Samambaia/Melchior. O relatório exige tecnologias avançadas para remoção de fósforo, nitrogênio e microplásticos, inclusão do polimento final e automação dos processos. Essas medidas são fundamentais para corrigir falhas operacionais, evitar extravasamentos e garantir maior eficiência no tratamento dos efluentes.
\nA CPI também recomenda ações emergenciais para melhorar as condições sanitárias da Comunidade da Cerâmica, uma das áreas mais vulneráveis da bacia. Entre as medidas estão a universalização do acesso à água potável, coleta de esgoto, drenagem adequada e recolhimento de lixo, além de investimentos em infraestrutura básica e programas de educação sanitária. A precariedade atual está diretamente ligada ao aumento de doenças como diarreia, hepatite A e problemas dermatológicos.
\nNo campo da fiscalização, o relatório aponta a necessidade de reforçar a estrutura dos órgãos ambientais, como Adasa e Ibram, com mais recursos, tecnologia e integração de dados. Também recomenda mecanismos de transparência para acesso público às informações e aumento da frequência de monitoramento da qualidade da água, essenciais para combater irregularidades como lançamentos fora dos padrões e ocupações clandestinas.
\nPor fim, a CPI sugere mudanças legislativas para consolidar as ações propostas: atualização da Política Distrital de Meio Ambiente e de Resíduos Sólidos, regulamentação do reúso de efluentes tratados, criação do Fundo de Recursos Hídricos do DF e um programa distrital para modernização das ETEs. Também propõe parâmetros mais rigorosos para fósforo, nitrogênio e DBO, criação de novas Unidades de Conservação e melhorias no licenciamento ambiental.
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Um aditamento ao relatório final para incluir imputações de responsabilidade, recomendações de indiciamento e recomendações complementares foi apresentado pelos deputados Gabriel Magno e Paula Belmonte. O colegiado aprovou as recomendações sugeridas no aditivo, mas vetou o indiciamento das empresas e órgãos públicos. Parlamentares contrários ao indiciamento justificaram que essa prerrogativa está inserida nas atribuições do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT), e o órgão é quem deveria decidir sobre o indiciamento de possíveis responsáveis caso julgue necessário.
\nEntre as recomendações aprovadas, estão medidas que reforçam ações previstas no texto inicial e acrescentam novas diretrizes para estimular a governança ambiental e garantir transparência. O texto inclui medidas para o fortalecimento institucional dos órgãos que compõem o Sistema Distrital de Gerenciamento de Recursos Hídricos e do Sistema Distrital de Meio Ambiente, refinamento das diretrizes de compensação florestal, planejamento do uso do solo com base na capacidade de suporte ambiental e controle da grilagem de terras.
\nO aditamento também prevê a disponibilização de dados espaciais da Novacap sobre redes de drenagem pluvial, atualização sistemática do Observatório da Natureza e Desempenho Ambiental, transparência na destinação de recursos de compensações ambientais e criação de um observatório na Câmara Legislativa para monitorar boas práticas de sustentabilidade.
\nAlém disso, sugere parcerias com empresas para apoiar ações de logística reversa e educação ambiental, bem como para elaboração de manuais educativos. O documento também propõe a criação da Política Distrital de Boas Práticas Sustentáveis, do Programa Distrital de Parcerias Sustentáveis e do Observatório Distrital de Boas Práticas Sustentáveis, além de medidas internas à CLDF para uniformizar procedimentos e adotar padrões permanentes de gestão sustentável.
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