Israel e Hamas negociam paz na guerra em Gaza sob pressão de Trump

Guerra entre Israel e Hamas em Gaza, que destruiu praticamente todo o enclave, já dura quase dois anos.
Reuters
Israel e Hamas retomam nesta segunda-feira (6) no Cairo, capital do Egito, negociações indiretas para o fim da guerra na Faixa de Gaza, na véspera do conflito completar dois anos.
Desta vez, as tratativas serão sobre um plano elaborado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que delineia termos para a paz entre Israel e o grupo terrorista palestino, a libertação dos reféns israelenses e o futuro de Gaza e do Hamas no pós-guerra. Especialistas apontam, no entanto, que o plano de Trump possui imperfeições.
Representantes do Hamas, do Catar e do Egito —esses dois últimos são mediadores das conversas de paz junto com os EUA— iniciaram as negociações nesta segunda-feira por volta das 7h no horário de Brasília. A delegação israelense chegará ao Cairo nesta segunda, segundo o gabinete do premiê Netanyahu.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
SANDRA COHEN: Israel e Hamas sinalizam interesse em acordo, mas moderam otimismo sobre plano de Trump
A proposta americana foi aceita de forma integral por Israel. Até o momento, o Hamas aceitou apenas três dos 20 pontos da proposta de Trump: libertar de uma vez todos os reféns israelenses, entregar o poder em Gaza a tecnocratas e a retirada gradual das tropas israelenses.
Trump pediu pressa nas negociações e ameaçou "obliterar" o grupo terrorista palestino caso haja o acordo seja inviabilizado. O presidente americano disse que sua proposta "é um ótimo negócio para Israel, os países árabes e o mundo como um todo" e acreditar que os reféns serão libertados "muito em breve".
No domingo, tanto Trump quanto o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disseram que reuniões sobre o assunto já estavam acontecendo, porém não deram mais detalhes. Já Rubio afirmou que espera finalizar rapidamente a logística para a soltura dos reféns. "90% do acordo está concluído, e estamos finalizando a parte logística", disse.
A intensa movimentação diplomática, na véspera do segundo aniversário do ataque terrorista do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, ocorre após o grupo terrorista ter dado uma resposta positiva ao plano de Trump e ultimato do presidente americano para que os dois lados cheguem a um consenso.
Também participam das negociações no Egito o enviado especial do governo Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e o genro de Trump, Jared Kushner.
Um oficial palestino próximo às negociações disse à agência de notícias Reuters estar cético quanto às chances de um avanço nas negociações no Egito por conta da profunda desconfiança entre os dois lados. Segundo a fonte, o Hamas e outras facções palestinas temem que Israel possa abandonar as tratativas assim que recuperar os reféns.
Segundo comunicado divulgado pelo Hamas na noite de domingo, seus negociadores buscarão esclarecimentos sobre a logística da troca dos reféns mantidos em Gaza por prisioneiros palestinos detidos em Israel, além de uma retirada militar israelense do enclave palestino e um cessar-fogo no conflito.
Um funcionário informado sobre as negociações no Egito afirmou à Reuters esperar que a nova rodada de conversas não seja rápida.
Primeiro-ministro de Israel diz que espera libertação total de reféns em Gaza nos próximos dias
No final de semana, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, disse esperar que todos os reféns mantidos em Gaza sejam trazidos de volta "nos próximos dias". Ao mesmo tempo, disse que não cumprirá nenhum termo do acordo de Trump antes de todos os cerca de 50 reféns israelenses ainda em cativeiro —alguns deles estão vivos e outros, mortos— cruzarem a fronteira de Gaza para Israel.
Um oficial do Hamas afirmou à agência de notícias AFP no domingo que o grupo busca um resultado positivo nessas negociações no Cairo para começar "imediatamente" a libertação dos reféns israelenses em troca da soltura de prisioneiros palestinos mantidos por Israel. No entanto, o Hamas protestou que Israel continua fazendo bombardeios em Gaza —os ataques mataram dezenas de pessoas durante o final de semana, segundo autoridades de saúde palestinas.
Sobre os bombardeios, Rubio ecoou uma fala de Trump ao dizer que Israel precisa parar com os bombardeios para que seja possível retirar os reféns de Gaza com segurança. O gabinete de Netanyahu afirmou estar no direito de continuar os ataques e fazer breves pausas nos ataques enquanto um cessar-fogo não estiver em vigor.
A guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza começou em outubro de 2023, após o ataque terrorista do grupo palestino em território israelense deixar mais de 1.200 mortos e cerca de 250 serem levados como reféns.
Desde então, o conflito gerou uma grave crise humanitária entre os palestinos e situação de fome generalizada e deixou mais de 67 mil mortos e quase 170 mil feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas —essa contagem é chancelada pela ONU. A guerra também causou diversos deslocamentos forçados de palestinos, algo que é considerado crime de guerra à luz do direito internacional.
LEIA TAMBÉM:
Trump 'supervisor' de Gaza, libertação de reféns, anistia ao Hamas: o ponto a ponto do plano dos EUA para o fim da guerra
'Plano de paz de Trump para Gaza ignora os interesses dos palestinos', diz membro do Hamas à BBC
Trump diz que, quando Hamas confirmar, cessar-fogo começa imediatamente
COMENTÁRIOS